terça-feira, 15 de setembro de 2020

Para Cantar Nasci

O crítico inclina os olhos
para encontrar um verso bobo
que escrevi pra ti.


Ele quer ver verter o sangue:
peripatético, ovo, nevrálgico.


Quer ler um amor escondido,
não as palavras que eu tenho:
beijinhos peixinhos passarinhos
mar luar voltar.

Mas não há em mim
vocações de dicionário,
e o meu coração não está aí
para ser visto,

foi para cantar que nasci.

terça-feira, 1 de setembro de 2020

Depois do mundo acabar

Anota em teu caderno 
estas palavras que seguem agora:
para morrer é que se precisa de um corpo,
nada mais

Mas, se queres, te digo ao pé do ouvido:
Eu sei, meu amor, as coisas deste mundo
são eternamente estúpidas

O cachorro, o fogo e o beijo molhado
não aprenderam a voltar para casa

Eu não sou alegre, mas sei
que a primavera tem gosto de geleia

Resisto à noite 
como quem nega a verdade
e preciso de perdão porque tardei

Sigo como se não soubesses de mim
e muito depois do mundo acabar
eu ainda vou sentir saudades.

quarta-feira, 12 de agosto de 2020